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Beber água com sal marinho combate enxaquecas?

5 Mai 2024 - 08:30
falso

Beber água com sal marinho combate enxaquecas?

No TikTok alega-se que a ingestão de água com sal marinho tem vários benefícios para a saúde, nomeadamente no combate às enxaquecas. 

Os autores de vários vídeos defendem que estes benefícios se devem ao facto de, supostamente, as dores de cabeça estarem relacionadas com a falta de hidratação e de sódio no organismo.

Num dos vídeos, a água com sal é descrita como “soro caseiro” que, segundo o autor da publicação, vai beneficiar as pessoas com enxaquecas se for usado “continuamente”. Mas estas alegações têm fundamento? Beber água com sal marinho trata as enxaquecas? Esta prática é segura?

Ingestão de água com sal marinho trata enxaquecas?

Em declarações ao Viral, Sandra Moreira, neurologista no Hospital Pedro Hispano, adianta que não existe evidência científica que comprove que beber água com sal marinho combate enxaquecas ou até cefaleias de tensão (aquilo a que, vulgarmente, nos referimos como dores de cabeça).

Além disso, acrescenta a médica, não há nada que prove que a falta de sódio seja a causa de qualquer dor de cabeça

No caso da enxaqueca, explica a médica, “embora nem sequer se conheça toda a fisiopatologia da doença, ou seja, tudo que está na sua origem, nada indica que haja alguma relação com o sódio”.

Noutro plano, sabe-se que a cefaleia de tensão “é mais prevalente em pessoas que dormem mal, que têm algum tipo de stress, ou em pessoas mais ansiosas”, aponta Sandra Moreira.

Para mais, “existem cefaleias de tensão com dor à palpação de alguns músculos, portanto, esta dor também está um bocadinho relacionada com a tensão muscular”, acrescenta. 

E também este tipo de dor de cabeça “não tem, que se saiba, nenhuma relação com o sódio”, avança. 

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De facto, aponta a nutricionista Helena Trigueiro, há estudos que têm tentado investigar “a relação entre o consumo de sal e enxaquecas” (ver aqui, aqui e aqui). Contudo, estas investigações têm “resultados inconclusivos” e “bastantes incoerências de metodologia”, sustenta.  

Em relação à ingestão de água com sal em específico, reforça Sandra Moreira, “não há nenhuma evidência de que vai melhorar uma enxaqueca ou outro tipo de dor de cabeça”.

Ainda assim, do ponto de vista da neurologista, pode haver duas justificações que levam as pessoas a acreditarem que esta prática funciona.

Em primeiro lugar, “a enxaqueca, por definição, é uma dor autolimitada”, ou seja, por norma, “desaparece ao fim de quatro a 72 horas”, esclarece a especialista.

Segundo Sandra Moreira, “os analgésicos, anti-inflamatórios e outros tipos de medicação” servem apenas para a enxaqueca “passar mais rápido”.

Portanto, muitas vezes, “as pessoas, quando já estão desesperadas e consomem um determinado alimento ou suplemento, acabam por melhorar, não porque ingeriram qualquer coisa, mas porque a dor, naturalmente, acaba por desaparecer”, explica.

Em última análise, nesta prática, “a única coisa que pode ajudar na enxaqueca, com um valor limitado, é a hidratação”, defende. 

Mas, nesse caso, não é o sal que tem efeito no alívio dos sintomas, mas, sim, a água, “porque as pessoas quando estão desidratadas, de facto, podem ter algum tipo de dor de cabeça”, justifica a médica.

Quais os riscos de beber água com sal com frequência?

Na perspetiva de Sandra Moreira, “a ingestão de sódio tem de ser sempre acautelada, porque, como se sabe, tem efeitos prejudiciais para a saúde”.

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Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu as cinco gramas de sal por dia como a quantidade máxima recomendada. 

Segundo a neurologista, esta quantidade “não deve ser ultrapassada”. 

Assim, beber água com sal com frequência “pode estar a prejudicar mais do que a beneficiar as pessoas”, defende.

Até porque, salienta Helena Trigueiro, “sabe-se que o consumo diário de sal médio de um português é mais do dobro da quantidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde”. 

Além disso, acrescenta a nutricionista, “o consumo elevado de sal na Europa está associado a problemas de saúde como hipertensão e doenças cardiovasculares”. 

Isto é particularmente relevante em Portugal, “onde a taxa de mortalidade por acidente vascular cerebral (AVC) é muito elevada, sendo a hipertensão arterial um dos principais fatores de risco”, frisa. 

Por isso, na visão da nutricionista, seja sal marinho integral, refinado ou dos Himalaias, deve-se promover a redução do consumo de sódio e não o aumento.

Isto porque, justifica, os vários tipos de sal acabam por ter um impacto semelhante na saúde, apesar das suas diferenças.

“No que diz respeito ao sal marinho comum e o sal de mesa, a diferença entre si costuma ser apenas o processamento a que está sujeito para ser mais ou menos refinado/granulado”, explica. 

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Por outro lado, “o sal dos Himalaias tem uma composição diferente que se traduz também na sua cor rosa, que vem do óxido de ferro e de outros minerais não tão presentes em sal comum”.

No entanto, aponta Helena Trigueiro, segundo a evidência científica, todos os tipos de sal têm o mesmo impacto na pressão arterial (ver aqui).

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5 Mai 2024 - 08:30

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